Tempos de Luto

“Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Viver um LUTO nos leva diretamente a pensar nas PERDAS. Estamos aproximadamente há seiscentos dias sofrendo per


“Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13).

Viver um LUTO nos leva diretamente a pensar nas PERDAS.

Estamos aproximadamente há seiscentos dias sofrendo perdas em um INTERVALO muito pequeno de tempo. ISSO pensando também nas diferentes perdas diárias que um percentual muito grande de pessoas, de alguma forma, vem sofrendo, por exemplo: Perda de emprego, perda da segurança financeira, compromissos que tiveram de serem adiados, expectativas frustradas, ausência de autonomia para se movimentar livremente, a diminuição das conexões relacionais e, PARA MUITOS, a perda mais temida de todas, perder a tranquilidade relativa, que no momento não existe, tendo que conviver com o medo e a realidade mais frequente da morte.

O luto surge então como um TEMPO variável, onde ocorrem vários tipos de reações, consideradas normais, esperadas e vivenciadas por cada pessoa na SUA PRÓPRIA maneira e abarcando situações relacionadas ao SEU CONTEXTO de forma geral na vida de cada pessoa e suas idiossincrasias.

Um nome teórico da psicologia, John Bowlby, diz que “o luto é um processo natural que ocorre em REAÇÃO a um rompimento de vínculo”.

É sabido que situações de rompimento de vínculo, por vários aspectos, sempre foi uma realidade na vida de qualquer um de nós, pois a perda é parte da configuração humana, antes desse triste e difícil momento que entra para nossa história - Covid 19.

Porém o ESPAÇO de TEMPO e a FORMA como PODE ser e vem sendo vivenciado o luto por perdas de pessoas amadas, tomou rumos inimagináveis, acrescentando sentimentos e emoções que pouco ou nada haviam experimentado e apresentado na vida de muitos anteriormente.

Não é algo fácil para ninguém, passar tempo distante de um ente querido e, vindo a óbito, não poder se despedir, momento esse, onde o CERIMONIAL é de simbologia humana importante, que carrega características próprias de diferentes culturas, mas que fecha um dos ciclos da vida.

A tristeza potencializa-se, pois “não dizemos adeus da mesma forma que antes. Não podemos oferecer o amparo presencialmente. Não temos mais o olho no olho que acolhe e diz que, independentemente do que acontecer, ficaremos ao seu lado”.

Para quem ainda não parou para pensar nisso, “despedir-se é uma ETAPA essencial para esse processo, na medida em que promove o contato com a realidade da perda e favorece a sua assimilação”.

Uma pesquisadora sobre esse assunto, Rivera (2012), afirma que os sentimentos de tristeza trazidos pelo luto não são diferentes de um estado de normalidade, porém são sentimentos indicativos de que um IMPORTANTE trabalho subjetivo está sendo feito INTERIORMENTE, operando a perda do objeto (perda da pessoa querida) e implicando uma remodelagem do seu próprio eu.

A Bíblia nos relata em Eclesiastes 3:1-4, que para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear.

O texto nos fala DE tempo e não de QUANTO tempo!

Por isso, “apesar de existirem sinais comuns que indicam a vivência do luto, cada pessoa sente de uma FORMA e precisa do seu PRÓPRIO tempo para lidar com suas emoções. O luto possui como objetivo nos ajudar a elaborar as perdas que tivemos e darmos seguimento às nossas vidas”.

Jesus chorou! (João 11:35)

Sim Jesus também chorou na dimensão de sua humanidade, quando viu a tristeza das irmãs de Lázaro. Nós, como CRISTÃOS, podemos chorar, podemos viver essa tristeza, ainda que COM plena consciência de que o Crente em Jesus tem a esperança de que esse não é o fim de tudo.

É importante para nossa saúde mental, emocional, espiritual, ADMITIR que perder alguém que se ama traz sempre muita dor e sofrimento.

No Salmo 30:5, o Salmista aborda também o tema TEMPO quando nos diz que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer”. Faz-nos pensar que ninguém pode manter-se saudável, sem que chegue um tempo para a alegria. Algumas vezes essa alegria se manifesta durante o luto e é importante sabermos que isso pode ser muito saudável, em tempos de dor.

Algumas perguntas surgem e tem PERDURADO no ar: - Como podemos ajudar? Como trabalhar tantas perdas? A resposta não é simples. As necessidades são múltiplas e bastante personalizadas, e, nesse cenário de pandemia, extrapolam a dimensão psicológica e às vezes espiritual, porém temos visto o quanto somos capazes de não desistir de lutar e ajudar sempre que possível.

Sendo assim, BUSCAR, incessantemente, que dentro de cada um de nós PERMANEÇA a fé, não nos falte a ESPERANÇA e que se SOLIDIFIQUE o amor. (Coríntios 13:13). Com isso, seremos capazes de percebermos nossa limitação, seja no aspecto emocional, seja no aspecto espiritual, seja no aspecto físico, sem esquecer de que, às vezes, não podemos ou não conseguimos sozinhos. E Eclesiastes 4:12 nos faz lembrar que, “Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade”.

Não temos controle sobre a morte física, mas podemos, sim, falar como Jó, em meio à angústia, que é Deus “quem faz coisas grandes e insondáveis, maravilhas que não se podem contar”. AINDA que em minha limitação humana “ele passa perto de mim, mas não o vejo: sim vai passando adiante, mas não o percebo” (Jó 9:10,11).

OLHE para onde dói mais em você e, se não conseguir prosseguir sozinho, dê uma olhada ao seu redor e veja DE QUEM você está precisando que lhe ajude, não se esquecendo nunca, de que “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei, pois Deus está comigo” Salmos 23:5.

 

- Eleni Nalon