Testemunho de Pai

Para falar de minha experiência como pai, permita que me apresente como pai de cinco filhos, o que me qualifica como alguém que possua alguma experiência nessa área. E, quand


Para falar de minha experiência como pai, permita que me apresente como pai de cinco filhos, o que me qualifica como alguém que possua alguma experiência nessa área. E, quando digo “alguma experiência”, é sem nenhuma falsa modéstia. Afinal, ser pai é uma condição em que ainda tenho muito mais a aprender, do que a ensinar.

A primeira lição que aprendi com a paternidade foi a lição do amor. O meu primeiro amor de pai surgiu com Pedro Vítor, meu primogênito, cujo nascimento me trouxe a estranha sensação de amar no mais alto grau, no mais ínfimo instante de tempo, ao ver aquela criatura divina sair do ventre em uma condição de total dependência dos cuidados paternos e maternos.

Um amor desinteressado, que produz o desejo de se estar junto em um relacionamento crescente de intimidade e amizade, que não se pode traduzir em nenhuma outra relação humana. Aprendi, assim, que a paternidade gera a expectativa de um relacionamento de amor, que flui naturalmente da condição de pai e filho. Foi amando o meu filho desse modo que pude me reconhecer como filho amado de Deus e entender que o seu amor de Pai é incondicional e ilimitado, muito superior ao meu próprio amor de pai, visto que sou um pai imperfeito, ao passo que Ele, não.

Outra coisa que aprendi sendo pai, porém, é que os filhos são espelho dos pais. Em Efésios 5:1, Paulo exorta os irmãos de Éfeso a andarem como Cristo, imitando ao Pai, como filhos amados. Essa imitação é projeção de imagem, para além das semelhanças físicas naturais que há entre pais e filhos, adentrando na esfera dos sentimentos e do comportamento.

Infelizmente, uma das coisas em que os filhos imitam os pais é nos maus exemplos; e foi vendo a repetição de padrões pecaminosos meus em meus filhos, que aprendi a minha primeira lição sobre a imitação: do mesmo modo que meus filhos erram em relação às orientações paternas, eu, como filho de Deus, também erro.

Foi assim que aprendi com meu segundo filho, Davi, que estar presente era mais importante do que dar provisão. Essa lição ocorreu numa fase em que eu estava extremamente absorto com muito trabalho fora de casa, coincidindo na fase em que Davi mais apresentou dificuldades comportamentais, devido a minha ausência, ao que eu sempre respondia com castigos físicos. Certa vez, propus a Davi a inversão de papéis em uma brincadeira, em que ele seria o pai e eu o filho; mal ele topou brincar, a primeira coisa que fez foi me dar um tapa na cabeça. Lógico, que encerrei a brincadeira logo no seu início, mas a lição veio na resposta do meu filho à minha expressão de espanto: - Mas eu não sou o pai?

Outra vez, disse que o que mais gostava em mim, como pai, era quando brincávamos juntos, mas que não gostava de apanhar. Foram dois duros golpes que me fizeram refletir sobre o padrão de paternidade ao qual eu havia me amoldado, e o que a paternidade realmente significava.

A minha terceira experiência como pai veio em um momento de reconstrução de minha vida, após a dissolução do meu primeiro casamento, durante cuja crise coecei subitamente a desejar, pela primeira vez, ser pai de uma menina. Aquela semente divina colocada em meu coração veio quando me casei com Mirian, minha esposa, que me presenteou com Manoela, minha enteada, a quem chamo “filha do coração”. Deus é minha testemunha de que Manu é tão minha filha quanto os quatro outros filhos que gerei.

Adotada em meu coração, minha filha me adotou como pai desde o segundo dia em que me viu, quando visitei sua casa e ela me presenteou com um desenho de uma família, em que estávamos eu, ela e Mirian. Lembro que me chamou de pai, naquela ocasião, pela primeira vez, o que despertou um desejo profundo, em mim, de exercer a sua paternidade.

Esta, com certeza, foi uma das mais desafiadoras experiências, dado que, quando um filho é adotado, toda a relação se estabelece em torno da palavra aceitação; aceitar ser pai, aceitar ser filho, aceitar um padrão de ensinamentos novo, aceitar a disciplina. Foi em Manu que me tornei um pai menos egoísta, a ponto de ter aceitado comprar um cachorro para ela, mesmo morando em apartamento (o que, antes, seria inconcebível), a fim de fazê-la feliz. É certo que no pacote, ela também recebeu coisas não tão boas de mim, que não sou um pai perfeito, mas essa experiência foi aperfeiçoadora do meu amor de pai.

Foi a partir dessa experiência que entendi o que Paulo quis dizer com nós, que temos a Jesus Cristo como Senhor das nossas vidas, termos, nele, sido predestinados para a condição de filhos adotivos de Deus, conforme está escrito em Efésios 1:5. Somente um amor aperfeiçoado em Cristo é capaz de gerar um vínculo paternal adotivo tão excelente como a paternidade geracional.

A minha paternidade foi, finalmente, coroada de êxito com uma dupla encomenda: Lucas e Felipe, nossos filhos caçulas, que vieram ao mundo num momento em que a minha maturidade já estava chegando, com tantos erros e acertos que cometi, juntamente com os que ainda iria cometer, e que vieram para consolidar o meu casamento com Mirian, selando de vez uma união estabelecida segundo o tipo de amor e temor que nos inspira a Palavra de Deus.

A experiência de ser pai de gêmeos não pode ser descrita. Tudo em dobro, inclusive a possibilidade de dar remédio e comida em dobro a um, por engano, deixando o outro sem. O que jamais aconteceu, principalmente devido a uma marca distintiva de nascença que o próprio Deus se encarregou de colocar neles, na face de Lucas e no ombro de Felipe, para que tarefas cotidianas se tornassem mais fáceis. Com essa experiência ficou claro que Deus não apenas nos dá os filhos, mas as condições de criá-los de um modo que agrade o nosso Pai celestial, doador e sustentador da vida.

Lucas e Felipe, embora sejam tão amados quanto qualquer outro de meus filhos, obtiveram o melhor de mim como pai. Principalmente por já estar, nesta fase, muito mais próximo de Deus como filho. Foi com os gêmeos que aprendi que para ser um excelente pai, é necessário assumir o compromisso, antes, de ser um excelente filho de Deus.

A cada experiência, uma certeza: é grande a responsabilidade de ser um pai. Ser um modelo, inclusive na fé e obediência à Palavra de Deus, o que nem sempre acontece, por sermos pais imperfeitos. Por outro lado, Deus tem me ensinado muito mais sobre ser filho de Deus, exercendo, eu mesmo, a paternidade, do que poderia aprender em um curso de doutorado na matéria.

A cada erro dos meus filhos, que precisava ser corrigido, Deus me mostrava um erro em minha própria vida que também precisava de correção. A cada decepção por um comportamento dissonante de um filho, ouvi de Deus que, às vezes, eu também o decepcionava.

A paternidade tem me ensinado muito mais a respeito de Deus do que de mim mesmo. Sigo aprendendo, na esperança de que, sendo aperfeiçoado no amor paterno, possa ensinar a meus filhos padrões que possam ser repetidos nas futuras gerações, para que seja eu o cabeça de muitas gerações que andem com Deus.

 

Nelson Edson da Conceição Júnior

Pastor de Famílias e pai de Vítor, Davi, Manoela, Lucas e Felipe